Avaliação da vulnerabilidade da água subterrânea à poluição através do método DRASTIC

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A poluição da água subterrânea é causada por diversas substâncias com origem nas mais distintas atividades económicas. Após a sua descarga, o contaminante pode infiltrar-se através do solo, pela zona vadosa e zona saturada até alcançar o aquífero, ou seja, pequenas concentrações de um determinado contaminante podem ser retidas na zona vadosa ou solo.

A avaliação da vulnerabilidade da água subterrânea à poluição é, então, crítica para o ordenamento do território. Assim, Aller et al. (1987) desenvolveram uma metodologia denominada DRASTIC com o objetivo de avaliar a vulnerabilidade à poluição da água subterrânea, nos mais diversos ambientes geológicos e em qualquer território dos Estados Unidos da América.

PRESSUPOSTOS DO DRASTIC

O índice DRASTIC foi desenvolvido com base nos seguintes pressupostos:

  1. O contaminante é introduzido na superfície do terreno;
  2. O contaminante é transportado verticalmente até ao aquífero devido à infiltração;
  3. O contaminante tem a mobilidade da água;
  4. A área em estudo corresponde a pelo menos 0,4 Km2.

VULNERABILIDADE À POLUIÇÃO

A vulnerabilidade à poluição resulta da combinação de fatores hidrogeológicos, efeitos antrópicos e fontes de contaminação numa determinada área. Esta metodologia inclui somente os fatores hidrogeológicos que podem influenciar a poluição potencial. Esses fatores foram incorporados na metodologia e afetam e controlam o movimento e armazenamento da água subterrânea, nomeadamente a (D) profundidade do aquífero, a (R) recarga aquífera, o (A) material do aquífero, as (S) caraterísticas do solo, a (T) topografia, o (I) impacto da zona vadosa e a (C) condutividade hidráulica do aquífero. Estes fatores, que formam o acrónimo DRASTIC (inglês), são incorporados num sistema hierárquico de ponderações designado por índice DRASTIC.

PARÂMETROS DRASTIC

Cada um dos parâmetros foi dividido em escalas, ou meios, que condicionam o potencial de poluição e atribuído com um peso que varia entre 1 e 10.

Profundidade do aquífero

Este fator é importante porque determina a profundidade do material através do qual o contaminante se movimenta antes de atingir o aquífero. De forma muito simples, podemos referir que quanto maior a profundidade do nível da água mais difícil será a contaminação do aquífero.

Recarga
Recarga
Recarga

A recarga dos aquíferos decorre essencialmente da precipitação que se infiltra pela superfície e representa a quantidade de água que penetra no solo e atinge o nível freático. Esta recarga pode ser responsável pelo transporte de contaminantes para o aquífero. Quanto maior a recarga maior o potencial para a poluição.

Material do aquífero

Este parâmetro refere-se à capacidade do aquífero para atenuar os efeitos de um poluente. Quando se carateriza este fator, importa descrever a litologia (xistos, rochas metamórficas/ígneas, arenitos, calcários, areias e cascalho, basalto) e o seu grau de alteração.

Solo

O solo corresponde à zona mais superficial da superfície terrestre e é caraterizado por intensa atividade biológica. O solo tem influência na quantidade de recarga que pode infiltrar na zona vadosa e, deste modo, o grau de infiltração de um contaminante nessa zona. Um solo extremamente argiloso, por exemplo, diminui a taxa de infiltração e, consequentemente, o risco de contaminação.

Topografia
Solo
Topografia

Este ponto refere-se ao declive na área em estudo. Tipicamente, inclinações mais acentuadas correspondem a maiores velocidades da água subterrânea. Declives mais acentuados apresentam menores graus de vulnerabilidade à poluição.

Impacto da zona vadosa

Esta zona situa-se acima do nível freático e não é permanentemente saturada. Pode desempenhar um papel importante na atenuação dos contaminantes.

Condutividade hidráulica

A condutividade hidráulica refere-se à capacidade de um aquífero em conduzir água, que, por seu lado, controla a taxa a que a água subterrânea flui num determinado gradiente hidráulico. Elevadas condutividades hidráulicas estão associadas com maiores potenciais para a poluição.

OBJETIVO DO DRASTIC

A metodologia foi desenvolvida com o objetivo de apoiar os decisores políticos na avaliação da vulnerabilidade à poluição de uma determinada região. Esta avaliação permitirá apoiar o processo de tomada de decisão relativamente ao uso de recursos e definição do tipo de ocupação do território.

Indivíduos que careçam de formação geológica/hidrogeológica podem usar e compreender os índices de DRASTIC obtidos, mas a assistência de hidrogeólogos beneficia a aplicação da metodologia, particularmente no que se refere a estimar e definir os parâmetros DRASTIC.

QUANDO PODE E DEVE SER UTILIZADO O DRASTIC?

Por exemplo, quando se pretende escolher o local para instalar um aterro sanitário ou ampliar um existente.

Quando se pretende definir a zona de proteção de uma captação de água subterrânea destinada ao abastecimento público.

Quando se pretende definir a zona para instalação de um parque industrial.

A metodologia, por si só, não estabelece a adequabilidade de uma área para a instalação de um aterro ou parque industrial, ou outra atividade. Essa adequabilidade resulta não só da avaliação da vulnerabilidade à poluição da água subterrânea mas também de outros critérios. O DRASTIC funciona, então, como um dos critérios usados no processo de decisão. Mas não deve ser o único.

O resultado final da avaliação efetuada a qualquer ambiente hidrogeológico é um valor designado por índice DRASTIC. Quanto maior o índice DRASTIC, maior a vulnerabilidade da água subterrânea à poluição. O índice obtido não tem validade absoluta. Somente quando é comparado com outra região ou outro ambiente hidrogeológico podemos inferir acerca da sua maior ou menor vulnerabilidade.

Saudações hidrogeológicas!

Jorge Oliveira

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