Também sou responsável?!

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Por ocasião do recente lançamento do iphone 7, a Amnistia Internacional Espanha lançou, em frente à  Apple Store das Portas do Sol em Madrid,  uma brilhante campanha de sensibilização alertando para as  desumanas condições de trabalho existentes nas explorações de cobalto da República Democrática do Congo.

(Fonte: instagram: aministia_pt)

Esta campanha poderia ter sido lançada na apresentação de um qualquer novo gadget da Samsung, Sony,  Huawei entre muitas outras multinacionais e também por isso creio que não deve ser entendida como provocação a uma só marca.

As condições de trabalho a que estão sujeitos os trabalhadores, muitos deles crianças,  do sector mineiro, dever-nos-ia preocupar a todos. Como nas últimas décadas, ou mesmo séculos, a exploração de matérias primas financia conflitos que têm sido responsáveis por destruir milhões de vidas, particularmente em África.

No caso dos diamantes, o Protocolo de Kimberley ja deu os primeiros passos para tentar conter o fluxo de diamantes provenientes de zonas de guerra mas, como bem sabemos, nem só de diamantes vive o Homem. Muitas outras matérias-primas são usadas para financiar conflitos.

Em 2013 o jornalista George Monbiot escreveu um artigo intitulado Apple offers 21st Century technology – with 19th Century ethics no jornal The Guardianonde aborda as miseráveis condições de trabalho a que crianças estão expostas nas explorações de estanho da ilha de Bangka na Indonésia. Descreve os graves efeitos ambientais como a contaminação de aquíferos, acidificação de solos, destruição da floresta tropical e ainda a expulsão dos agricultores das suas terras e o aumento do número de casos de malária. Isto tudo perante a passividade e indiferença da Apple. Novamente, a indiferença é certamente transversal a todos as multinacionais que necessitam do estanho indonésio para as soldas.

E eu, como utilizador de computadores, smartphones e mais uma série de produtos que incorporam matérias-primas como o estanho, o cobalto entre tantas outras, não serei também responsável pelas condições de trabalho nas explorações?!

Não sei quais as soluções ou mesmo se há soluções para estes graves problemas mas creio que um dos caminhos passa por activamente promover o sector mineiro nos países do chamado primeiro mundo. Porque não novas minas na Europa? Porque não novas minas em Portugal?

De uma coisa tenho a certeza, apesar do trabalho mineiro ser duro, em Portugal dificilmente teríamos crianças escravizadas e homens e mulheres torturados para extrair a matéria-prima sem a qual já não conseguimos viver.

Saudações geológicas!

Jorge Oliveira

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