A Geologia no ordenamento do território – Os recursos minerais

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A existência de diferentes níveis de aproximação e conhecimento podem ditar a presença de reservas mineiras exploráveis de um recurso mineral, num determinado Território. As variáveis que podem influir na definição de uma reserva mineira economicamente viável são de natureza diversa. Desde logo o valor intrínseco do recurso em questão, questões logísticas, ambientais, etc.

Os recursos minerais existentes num dado Território são fruto da diversidade e complexidade dos processos geológicos que nele ocorreram. O conhecimento desses processos (feito através das ferramentas-chave) bem como a sua representação numa base cartográfica adequada são os pressupostos-base para que possa ser equacionado o seu aproveitamento e/ ou a criação de zonas de salvaguarda. Desse modo a acção do Planeador ficará facilitada, no que aos recursos minerais diz respeito.

O conhecimento de base já existente permite afirmar que o Território-Norte-e-Centro-de Portugal-Continental possui potencial geológico relativamente a alguns recursos minerais, de entre os quais se destacam o Tungsténio(volfrâmio), o Estanho e o Tântalo. Tanto o Tungsténio como o Estanhoforam alvo de exploração intensa durante o séc XX, pelo que a noção da sua importância perdura ainda na memória colectiva. Não obstante, face à actual demanda de matérias-primas para a indústria electrónica e de telecomunicações, a importância do Tântalo tem aumentado consideravelmente. Algumas das aplicações, a título de exemplo, são: discos rígidos, próteses médicas, pacemakers, computadores portáteis, telemóveis, componentes para automóveis, câmaras digitais, ferramentas de corte etc. (fonte: tanb.org).

O metal Tântalo é extraído a partir de diferentes minérios, conhecidos como niobo-tantalatos. Esta denominação prende-se com o facto de o Tântaloocorrer associado ao Nióbio, na Natureza. Em Portugal (e no resto do Mundo, aliás), a ocorrência de niobo-tantalatos está associada aos pegmatitos graníticos, cuja distribuição é já relativamente bem conhecida (ex: www.Prospeg.org). São assim os pegmatitos a fonte primária de Tântalo em Portugal (são-no também em grande parte de Estanho). No entanto, dadas as propriedades dos minerais portadores de Tântalo (em que se destaca a sua densidade elevada), existe também potencial para o seu aproveitamento em depósitos secundários (aluviões e eluviões) originados a partir da meteorização, erosão e transporte a partir dos pegmatitos.

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O número de ocorrências de Tântalo (fonte: SIORMINP) em Portugal é de 24, distribuídas pelos distritos de Braga, Viana do Castelo, Porto, Vila Real, Guarda e Viseu. No entanto as ocorrências de Estanho são 449! Pode, por associação, afirmar-se que o número de ocorrências de Tântalo está deflacionado. A explicação para tal facto é a de que o Tântalo era explorado como um sub-produto, não constando nos registos mineiros.

O abastecimento de Tântalo é estratégico para as economias dos países industrializados. No entanto o mercado do Tântalo não é estável, devido, em grande parte, à existêncida de concentrados de niobo-tantalatos(comummente denominados como COLTAN) provenientes de países em conflito. A entrada destes concentrados “de sangue” (à semelhança dos diamantes…) está no entanto a ser diminuída, face às recentes restrições políticas impostas pelos governos dos países industrializados. Este facto pode constituir uma oportunidade para países como Portugal, que, devido à sua posição geoestratégica, poderá constituir-se como um centro de exploração e processamento de minérios de Tântalo, à escala Europeia.

A afirmação de Portugal como um centro de exploração e transformação destes minérios, para além do consequente aumento de valor acrescentado dos minérios nacionais, permitiria o abastecimento da indústria europeia com matéria-prima extraída em condições ambientais e sociais adequadas aos padrões Europeus.

Bruno Pereira

Geólogo e Sócio gerente da Sinergeo

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